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Arquitetura

SANTIAGO E OS EDIFÍCIOS DE HABITAÇÃO MODERNISTAS Por Suzete Bessa

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A evolução da arquitetura modernista internacional tão rica de expressões escreveu um capítulo consistente na cidade de Santiago do Chile através de obras concebidas entre o fim da década de 1930 e a década de 1970. Esse capítulo revela uma arquitetura modernista resumida por características que expressam economia, sentimento plástico, simbolismo formal e sentido urbanístico.

Os apontamentos da geração internacional, Walter Gropius, Le Corbusier, e Mies Van der Rohe; e as construções de Alvar Aalto, Oscar Niemeyer, Eeero Saarinem e Louis Kahn contribuíram para a arquitetura de uma forma geral, e muito especificamente para as habitações coletivas da cidade nesse período, tornando-a expoente clara da arquitetura moderna internacional. Algumas de suas construções são realizações de uma originalidade muito especial e lançam mão de uma nova concepção urbanística, concebendo o espaço como uma forma de comunicação humana.

Aliás, no que se refere as concepções urbanas a partir de obras arquitetônicas de grande escala, as habitações coletivas, estas são de particular importância pois testemunham a qualidade dos projetos que se traduzem nos espaços criados, em favor de aspirações do homem para a cidade e coordenam diversos elementos.

Dentre seus exemplos mais significativos estão:

Remodelación República, Vicente Bruna e Arquitetos, 1967.

Arquivo Pessoal, 2018.
Arquivo Pessoal, 2018.

Este edifício de habitação coletiva foi projetado em 1967 e pode comparar-se às primeiras construções que promoveram uma renovação urbana no tecido urbano das cidades. Realizado em concreto armado, material construtivo tradicional da arquitetura moderna, a obra foi gerida pelo estado com o objetivo de resolver o problema da densidade demográfica vivido por Santigo, assim como a maioria das cidades na década de 1960. A integração com o entorno é perfeita, dada através da composição de blocos de apartamento residenciais e uma área comercial.

A intenção de simbolismo formal se evidencia em sua composição. Sua implantação se dá em um bairro composto por vários edifícios educacionais, onde dois blocos de apartamentos são locados em um sítio em forma de “L”. A área comercial está semi-enterrada e possui aproximadamente 500m², as dimensões amplas dos blocos de apartamentos (Comprimento 80m x Altura 42m) permitiram 141 plantas de apartamentos totalmente adaptados às necessidades da vida moderna.

As plantas dos apartamentos são um capítulo a parte. A espessura do bloco permitiu apartamentos com varandas e janelas com orientação tanto pra leste quanto para oeste. O programa de necessidades se divide em apartamentos simples e apartamentos de três pavimentos, onde o acesso acontece pelo piso intermediário, tendo toda a parte social no piso superior, e o intimo no piso inferior. Embora a planta do apartamento seja estreita, a divisão em pavimentos permitiu que o apartamento abrigasse três quartos, e mais um quarto de serviço, uma sintese entre tradição e a condição da vida moderna.

A setorização residencial / comercial forma uma área de acesso aos apartamentos que se aproxima muito da tipologia de uma praça, permitindo que a área comercial atenda as construções locais sem tirar a independência dos apartamentos. As áreas verdes estão atualmente muito prejudicadas, pois foram substituídas por estacionamentos, elemento que não foi considerado no projeto inicial. A cobertura tem calha central, e nela sobressaem os dois volumes que cortam o prédio na vertical e abrigam as escadas. As varandas dispostas ao logo das fachadas que sobressaem do corpo do prédio são cobertas por laje de concreto. Apesar das inovações propostas no projeto, a planta do apartamento é totalmente compartimentada, sem integração.

Conjunto Los Carpinteros, Arquitetos Flaño, Núñez, Tuca, 1974

Arquivo Pessoal, 2018.

Este projeto foi realizado pelos arquitetos Flaño, Núñez e Tuca em 1974, durante uma época totalmente diversa da atual, mas a arquitetura continua mais contemporânea do que nunca, resultado de uma concepção arquitetônica modernista de habitação coletiva, funcional como se propunha a ser, mas preocupada com o espaço urbano e com a escala da cidade e do bairro. A implantação escalonada pretende ajustar os blocos extremamente ortogonais dispostos um ao lado do outro, adaptando-os aos limites inclinados do terreno, buscando criar um grande espaço de pátio interno para uso público.

Hoje fechado por cercas e portões se assemelha a um condomínio, mas não era essa a ideia inicial do projeto, que pretendia manter uma relação direta com a vizinhança. Sua seção é um triangulo cujos dois lados diagonais estão formados pelas casas escalonadas, orientadas para a rua. A ortogonalidade dos blocos é ressaltada pela cobertura embutida totalmente por platibanda. As casas possuem balcões que recebem luz do exterior, e paredes de tijolos aparentes. O escalonamento dos blocos também favorece a implantação entre os distintos níveis das ruas.

A circulação segue a ortogonalidade da planta dos imóveis, incorporando-se à construção que está em excelente estado de conservação. A ideia de integrar a rua com o edifício é uma inovação notável para a época, e apesar da pouca altura, consegue uma densidade relativamente alta graças ao tipo de implantação escolhida. As casas favorecem o estreito contato com a vida em comunidade. Considerando a divisão interna, cada bloco possui duas casas, uma por andar, com acessos individuais, uma pelo nível do térreo e outro por escadas.

Unidad Vecinal Portales – Bresciani, Valdés, Castillo e Huidobro, 1954

Arquivo Pessoal, 2018.
Arquivo Pessoal, 2018.

O conjunto de apartamentos foi construído entre 1954 e 1968. Os apartamentos foram construídos em um grande terreno que faz limite com a Universidade do Chile, o que permitiu a construção de grandes blocos que se comunicam através de circulações no nível do térreo e a partir de passarelas nos andares superiores. Esse projeto foi referencial em Santiago, ao introduzir uma mudança na legislação local, que não permitia a construção de habitação social com mais  de três pavimentos.

Apesar da grande escala dos edifícios, que podem ser tranquilamente considerados uma cidade em si mesmas, eles ocupam apenas 20 por cento do terreno.  Os demais oitenta por cento de áreas verdes eram consideradas um bem público. Os edifícios de quatro andares possuíam acesso controlado dos automóveis, que acabaram por ocupar algumas áreas verdes, que foram transformadas em estacionamento.

Ao todo são dezenove edifícios, sendo mil seiscentos e trinta e oito apartamentos distribuídos em doze tipologias, e 302 casas distribuídas em 24 tipologias. O entorno próximo é servido de mercados, parquinhos, e outros serviços. O concreto armado é usado com maestria. Hoje o edifício se encontra totalmente degradado, o entorno antes cercado de vegetação foi bastante devastado. O complexo projetado para favorecer a vida em comunidade, os grandes espaços públicos foi marginalizado.

Considerando que a arquitetura moderna foi o cenário das utopias sociais dos primeiros 30 anos do século XX, a reorganização das classes sociais, crescimento das cidades, preocupação com questões sanitárias, transporte dos trabalhadores, mudança do cliente pessoal para o cliente coletivo, a transformação das relações sociais e do ambiente vivido, em busca de uma vida melhor, seus objetivos nem sempre foram atendidos. Intelectuais, arquitetos e urbanistas uniram-se em torno do desejo de implementar tais transformações, mas nem sempre a dinâmica da cidade correspondeu.

 

Referências

ARANTES, Otilia B. F. ARANTES Paulo. Sentido da Formação. São Paulo, Paz e Terra, 1997. BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil. São Paulo, Estação Liberdade/FAPESP,1998.

BRITO, Mário da Silva. História do Modernismo Brasileiro. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978.

Karina Duque. “Clásicos de Arquitectura: Unidad Vecinal Portales / BVCH” 19 abr 2011. Plataforma Arquitectura. Accedido el 26 Oct 2018. <https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-84819/clasicos-de-arquitectura-unidad-vecinal-portales-b-v-c-h> ISSN 0719-8914

Karina Duque. “Clásicos de Arquitectura: Conjunto Habitacional Remodelación República / Vicente Bruna, Germán Wijnant, Victor Calvo, Jaime Perelman y Orlando Sepúlveda” 14 feb 2014. Plataforma Arquitectura. Accedido el 26 Oct 2018. <https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-335752/clasicos-de-arquitectura-conjunto-habitacional-remodelacion-republica-vicente-bruna-german-wijnant-victor-calvo-jaime-perelman-y-orlando-sepulveda> ISSN 0719-8914

 

Suzete Bessa é Arquiteta e Urbanista graduada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Estadual de Goiás (2009), Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília – UNB (2016) com Bolsa CNPq. Hoje é Professora na Universidade Federal de Goiás – UFG, Regional Goiás. Destaca-se o interesse por teoria e projeto, investigando: arquitetura moderna, Goiânia, patrimônio, patrimônio imaterial, arquitetura contemporânea e o morar brasileiro.

 

 

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